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A PERGUNTA FILOSOFICA - 3º anos

As perguntas, como qualquer outra coisa, são fabricadas. E se a você não é permitido fabricar suas perguntas, com elementos recolhidos de aqui e de lá, se lhe “plantam” as perguntas, pouco terá a dizer (Gilles Deleuze).
Conta-te a ti mesmo a tua própria história. E queima-a logo que a tenhas escrito. Não sejas nunca de tal forma que não possas ser também de outra maneira. Recorda-te de teu futuro e caminha até tua infância. E não perguntes quem és àquele que sabe a resposta, porque a resposta poderia matar a intensidade da pergunta e o que se agita nessa intensidade. Sê tu mesmo a pergunta. (Jorge Larrosa. Pedagogia Profana)
Há curiosidade na base de toda filosofia. Essa curiosidade pode se revestir de diversas formas: epistemológica, política, estética. Ela expressa sempre um querer saber mais; um reconhecer que não se sabe o suficiente, como diria Sócrates; um procurar, investigar, ir atrás do que não podemos encontrar, mas precisamos buscar, outra vez sugeriria Sócrates. A filosofia vive das perguntas, é o que tem de melhor para mostrar.  Mas, que tipo de perguntas é essas? Quais são as perguntas da filosofia?
As perguntas da filosofia abrem os diversos sentidos da crítica. Elas são as perguntas que permitem reconhecer limites, explorar obviedades, pôr em questão valores. Elas são perguntas que mostram os limites dos outros saberes e das formas de vida em sociedade, que questionam as familiaridades, mordendo a realidade (prof. Japiassu, l997), que não deixam que o pensamento se interrompa em nenhuma parte; finalmente, as perguntas da filosofia são Phármakon, porque procuram dissolver crenças e superstições (prof. Matos, l997); sendo phármakon, elas são também terapêuticas porque instauram a autarquia de quem as pergunta; elas são antídotos contra os dogmas que se pretende impor como verdades (Savater, 1994).
Alguns consideram ser possível distinguir perguntas filosóficas de não filosóficas. Existiriam critérios definidos para diferenciar umas de outras. As primeiras seriam comuns (os assuntos perguntados por elas atingem a qualquer ser humano), centrais (elas interrogam sobre questões importantes, principais da vida humana) e contestáveis (elas são controversas, não podem ser respondidas sem polêmica). Estas caracterizações, assim como outras que definam critérios a priori para diferenciar perguntas filosóficas e não filosóficas, podem ser orientadoras, mas não devem impedir-nos de reconhecer que as perguntas da filosofia não só se definem, pelo conteúdo, o seu caráter, mas, sobretudo pelo movimento que as impulsiona e pelo que se espera de suas respostas.
Com efeito, a pergunta filosófica comporta certo posicionamento perante o mundo e perante as possíveis respostas a ela. Como Sócrates diz no Menon (livro), quem pergunta filosoficamente não leva o outro a um caminho sem saída (euporõn), mas só pode fazer isso porque ele mesmo está sem saída, em aporia, mais do que qualquer um.  De modo que a pergunta filosófica comporta, em primeiro lugar, o compromisso interrogativo de quem a lança. Nesse sentido, talvez seja mais próprio caracterizar um perguntar filosoficamente as perguntas de outro se antes não as fiz “minhas” perguntas. Por isso é tão importante que os professores e estudantes de filosofia se situem no espaço daquele que pergunta que questiona a sua prática. Por isso “não existem os bons manuais de filosofia”. Porque eles situam o professor externamente à interrogação filosófica (todo manual).  Em segundo lugar, a pergunta filosófica exige uma atitude inconforme perante qualquer resposta que pretenda acalmar a pergunta.  As perguntas da filosofia não são colocadas para serem respondidas no sentido de serem resolvidas, mas para serem pensadas; e o pensamento não tem pontos de clausura. Ele sempre pode avançar mais um pouco: por que X? PorqueY. Porque Y? Porque x e y? ...Sempre “por quê?” Não importa a idade.
Professor Divino

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