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TEMA GERADOR 1BI-O PÚBLICO E O PRIVADO

ARTIGO

Biblioteca pública, uso privado
Aos trabalhadores da Biblioteca Central da Universidade Estadual de Maringá Sou assíduo frequentador da biblioteca da Universidade Estadual de Maringá. Estes dias, conversava com a senhora que gentilmente me atendia e, de supetão, perguntei: "Já pensou se não existissem bibliotecas públicas". Ela me olhou com certa perplexidade. Não sei o que pensou, mas passou a impressão que considerava natural a existência da biblioteca. Ainda tentei argumentar de que nem sempre foi assim, mas despedi-me agradecendo.
E se tivéssemos que comprar todos os livros que utilizamos para estudar, pesquisar, preparar aulas, etc.? Apenas a minoria teria condições de arcar com o custo. E os estudantes? Muitos nem conseguem manter os gastos com cópias, que dirá comprar todos os livros que precisam. E muitas vezes gastamos mais do que podemos para adquirir obras não disponíveis na biblioteca.
Quem mantém as bibliotecas públicas? A resposta parece óbvia. Mas quantos usuários, os quais se consideram cidadãos, se perguntam sobre isso? Muitos até acham que é o governo quem mantém as bibliotecas. As verbas, afinal, são repassadas pelo poder público. Geralmente é esquecido que governantes não produzem dinheiro e, mesmos eles, com seus privilégios, nepotismo e atitudes nem sempre republicanas e éticas, também são mantidos pelas riquezas produzidas pela sociedade e transformadas em impostos. Portanto, quem mantém as bibliotecas públicas é a sociedade, isto é, cada indivíduo que, direta ou indiretamente, paga impostos. Isto significa que o investimento em bibliotecas retém recursos que poderiam ser utilizados em outras áreas, como a saúde pública. Não pense o leitor que sou contrário ao investimento na melhoria das bibliotecas e das condições salariais e de trabalho dos que a fazem funcionar. Quero enfatizar o significado e importância das mesmas enquanto órgãos mantidos pela sociedade.
Agir conscientemente é zelar pelos livros e outros recursos que as bibliotecas oferecem. Infelizmente, nem sempre é assim. É comum encontrar livros rabiscados e maltratados (outro dia vi um livro que parecia um arco-íris, pois os leitores o grifaram e rabiscaram com canetas de várias cores; de outra feita, encontrei um livro sujo de gordura e é comum os estropiados).
Este tipo de leitor usa as obras como se fossem propriedade privada. Pior, pois talvez não agissem assim se os livros fossem adquiridos com recursos próprios. No fundo imagina que o bem público não pertence a ninguém - ou é do governo. Assim, justifica o injustificável. Tais leitores são analfabetos políticos. Paradoxalmente, os que têm a liberdade para cometer estes pequenos delitos, sem que sejam importunados, terminam por contribuir com aqueles que não gozam da liberdade de ir e vir. São os presidiários que restauram os livros destruídos por usuários pouco ou nada cuidadosos. Um convênio entre a UEM e a Penitenciaria Estadual de Maringá (PEM), garante o trabalho de restauração das obras. A UEM treina os presos para o serviço. Estes, em troca, recebem uma pequena quantia a título de pecúlio e têm a pena reduzida. Não seria o caso de oferecer aos destruidores de livros e bibliotecas públicas um estágio sem remuneração na PEM? Quem sabe seriam estimulados a tratar o bem público de maneira adequada. É preciso conscientizar a todos de que o público não é do governo, muito menos privado (e nisto nós, educadores, podemos contribuir). Talvez seja necessário agir com mais rigor. De qualquer forma, ainda bem que existem bibliotecas públicas e devemos agradecer aos que cuidam dela: leitores diligentes, presidiários restauradores e, em especial, os funcionários. Obrigado!

4Publicado em 14.07.2007 < http://antonio-ozai blogspot.com/2007/07/biblioteca-pblica-uso-privado.html Revista Espaço Académico, n° 83, abril de 2008
 
http://www.espacoacadcmico.com.br/083/83ozai.htm

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